Há 43 anos atrás, Jango, no exílio, deixava a vida. Nos deixava fisicamente, legando-nos sua luta, sua história e seu projeto de Nação para nós brasileiros.
Sua proposta para um Brasil mais solidário, mais justo e mais humano, baseado nas Reformas de Base, que integrariam o seu povo ao desenvolvimento nacional, foi abruptamente interrompido, por um golpe de Estado, que violou nossa Constituição, e instalou uma ditadura sanguinária, patrocinada pela influência do Departamento de Estado americano.
Até uma frota naval dos EUA foi colocada à disposição do golpe de Estado que derrubou nossa democracia, através de nossas forças armadas, subservientes ao império americano e prontas a entregar nossas riquezas estratégicas, com tanques, baionetas, coturnos e repressão ilegal contra nossas instituições, instalando uma longa noite barbáries de 21 anos de ditadura.
De que tinham medo esses usurpadores da democracia?
De uma reforma agraria, que colocaria no mercado um milhão de novos proprietários rurais? Formando assim um mercado interno de produção que demandaria um milhão de novos tratores, novos implementos agrícolas, bombas de irrigação, geladeiras, desenvolvimento do mercado interno?
Ou teriam medo da prioridade que Jango deu a formação intelectual de nosso povo, quando, através do plano Nacional de Educação, destinou 12% do orçamento nacional de investimentos públicos para a formação de nossas crianças e jovens? Tinham medo de uma nação mais solidaria?
Ou teriam medo da reforma bancaria proposta naquele então, para uma melhor distribuição do crédito nacional disponível? Até hoje ninguém se atreveu a tocar na delinquência produzida pelo achaque bancário ao crédito pessoal. Será que por isso Jango, que não atendia os interesses dessa elite criminosa que até hoje atua como verdadeiros agiotas no sistema financeiro contra o povo?
Ou será que a reforma urbana, que atenderia a uma humanização daqueles menos favorecidos, que criam seus filhos embaixo do viaduto, pudessem ter acesso a um espaço digno para morarem, proposto por Jango, também incomodava aos rentistas que aplicam em imóveis e chegam a ter centenas de imóveis fechados, caso não sejam alugados pelo que pretendem?
Ou talvez quando propôs a lei de remessas de lucros das empresas estrangeiras, para que estas não mais escoassem divisas que foram produzidas em território nacional, com mão de obra nacional, e que até hoje são sangradas anualmente de nosso país para gerar emprego, onde estas empresas mantêm suas matrizes?
Ou ficaram preocupados quando Jango decretou a encampação das refinarias privadas, e outorgou a Petrobrás, não só o monopólio da extração como também o do refino?
Ou quando Jango outorgou aos trabalhadores brasileiros o 13º salario, que segundo a grande imprensa da época iria quebrar o Brasil?
Ou medo da sua política externa, que deu ao Brasil uma das melhores posições da diplomacia mundial baseada na “autodeterminação dos povos”, uma política multilateral que não excluía países por diferenças ou convergências de seus sistemas políticos?
Pois é, hoje não somente temos que reconstruir o caminho do Nacional-desenvolvimentismo, não somente temos que revisitar Jango na academia.
Hoje temos; hoje necessitamos; hoje, diante de um novo quadro nacional de entreguismo, urge que na esteira dos rastros de nossa luta não somente temos que resgatar a história.
Temos hoje, no exemplo de vida, e no exemplo de morte do Presidente João Belchior Marques Goulart, morto no exílio em defesa da Nação e da justiça social, criarmos condições revolucionarias e pacíficas, para devolver o Brasil a quem ele realmente pertence: ao povo brasileiro..
João Vicente Goulart é presidente do Instituto João Goulart e membro do Comitê Central do PCdoB.
Fonte: Hora do Povo