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Completam-se 98 anos desde que aqueles trabalhadores, em Niterói, fundaram o Partido Comunista do Brasil, em 25 de março de 1922. E essa bandeira, esse nome, esse símbolo seguem marcados na luta, nos destinos e na história da classe trabalhadora, no Brasil, e no mundo.

Por Paulo Vinícius*

Face ao centenário que se aproxima, vemos a pátria, a democracia e os direitos dos trabalhadores(as) mais ameaçados que nunca. Nessa hora, não basta a suprema orgia dos banqueiros, querem ainda nos convencer que a vida só pode ser assim, que é impossível mudar. E, para que a mudança,  à la Lula, seja mera gestão da crise, há que exorcizá-la, exorcizar o socialismo, o comunismo, a foice e o martelo.

 A foice e o martelo sempre me comoverão exatamente por isso. Esse universal símbolo do projeto emancipador dos oprimidos de todo o mundo tremula em todos os países, e incomoda. Quando há uma luta, uma greve, se o povo assume o poder, como na China, tremula altivo o pavilhão da aliança do campo e da cidade, a união dos que trabalham e, com o seu trabalho, constroem a humanidade. Uma foice e martelo que tremulou também ao fim da derrota do nazismo, em 1945, no Reichstag.

Um tal símbolo só pode ser maldito em tempos atuais, de desespero, de incerteza, tempos de hegemonia absoluta do capital financeiro e, por decorrência, tempos de fascismo. Nessa hora soturna, são os e as comunistas os impulsionadores da mais generosa tese, a Frente Ampla. E é nesse contexto que somos questionados, e à nossa simbologia, e nome. É um questionamento normal, porque o anticomunismo é uma realidade. Então, o que pensam os comunistas? Vocês ainda são comunistas, perguntam-nos.

Esse é o paradoxo. O passado nos questiona sobre a oportunidade do futuro. A antiguidade do símbolo não pode escamotear a tardança dos sonhos, que seu manifesto, ancorado no século XIX, vige em pleno século XXI. Mas porque perguntar se não muda o sonho, se a realidade é de pesadelo? É o capitalismo que atrasa o gênero humano. Ainda vigora a sociedade do trabalho assalariado, elevada ao precariado universal. Há algo de podre nesse papo de mercado sob tanto oligopólio e as guerras. Mandam os 1%, super ricos que detém mais riqueza que 99% da humanidade. Persistem ainda a acumulação do capital e a mais-valia, contudo as asas do capital financeiro levaram a acumulação a um grau inédito de luxúria rentista, parasitária e autoritária.  Submetida está a humanidade inteira e seu futuro ao poder dos oligopólios. As fomes, as guerras, o tráfico de seres humanos, a sociedade da adicção, nada disso é à toa, casa perfeitamente com o sistema capitalista decadente que vivemos e que ameaça o planeta. O que tem de mudar?

O que tem de mudar é o capitalismo, este sim o problema que definirá o futuro da humanidade. O capitalismo precisa ser superado. A oligopolização, o rentismo parasitário, a hipertrofia do capital financeiro, o grande irmão aliado ao grande capital e as hordas de manipulados pelo ódio e pela fé, é isso que tem de acabar. Porque se continua, nós estamos vendo que a degradação não terá limites.

E hoje, só o Socialismo de Mercado Chinês tem mostrado poder regular um mercado pujante e produtivo, submetendo as finanças à produtividade e promovendo um movimento inverso ao mundial. Sob o rentismo parasitário do capital financeiro especulativo não há lógica que não o lucro, e a produção é um detalhe. A especulação movimenta recursos imensamente maiores que a economia produtiva. E o rentismo sufoca a produção ao tempo que promove o consumismo irracional e daninho. No gigante asiático, esse capital especulativo é dirigido à produção, a partir de sólidas instituições financeiras estatais e de um estado forte e eficiente, e uma forte economia privada, promovendo o avanço em todos os níveis. E sobre esse imenso experimento, que tirou 830 milhões de cidadão da linha da pobreza, tremula a bandeira vermelha da foice e o martelo. Ante o museu de velhas novidades denunciado por Cazuza, por que a grande mídia anseia por abandonarmos a perspectiva futura? E que virtude haveria em ser mais um partido reformista? Amplitude sem radicalidade só serve às elites.

Deixado à sua própria sanha, o capitalismo promove guerras, concentra riqueza, escraviza através de juros, submete todas as dimensões humanas ao frio interesse egoísta, propõe a criação de um sistema crescente de insatisfações, promove o consumismo irracional e as adicções levando ao desperdício criminoso de recursos finitos das futuras gerações. O capitalismo já é a barbárie, a guerra, a fome, a ignorância e a ganância com repercussões planetárias devastadoras. É um suicídio universal. É preciso derrotar o capitalismo pra salvar a humanidade. O problema não é o comunismo, e sim o capitalismo oligopolista e sua ditadura.

E ser comunista hoje é em parte uma a maneira de ver o mundo, iluminado por esse fato inegável de que é o trabalho humano que cria a riqueza, e mais que isso, que mantém e dá sentido à vida. Há essa irmandade objetiva, nosso destino é comum, somos classe trabalhadora. Mas é mais, ser comunista é um jeito especial de lutar, e um objetivo sumamente elevado a cumprir.

O socialismo é essa necessidade histórica. É o desafio da nossa geração. Os que querem vender os ingressos do fim do mundo não querem alternativa a sua distopia. Que perigo ser comunista, acreditar nas pessoas comuns, trabalhadoras, no coletivo, e no direito a uma vida feliz e em paz. “Muda isso”, dizem ha muito quem acha melhor a vida como está. Nós, não.

 E foi o nosso partido forjado por essa multidão de militantes, muitos anônimos, que trouxe essa bandeira vermelha da foice e do martelo, da união dos que trabalham, no campo e na cidade, para o mundo ser de todos. Tão perseguida, caluniada, ela segue sendo o supremo símbolo de rebeldia e a utopia de um novo mundo, uma terra sem amos. Dizia o John Lennon: “Pode dizer que eu sou um sonhador, mas eu não estou sozinho, e eu espero que um dia você se junte a nós, e o mundo então será um só”. Ora, a vida anda tão ruim, que mudá-la é um imperativo ético e de sobrevivência. Para mim, mais que nunca, o que faz todo sentido está escrito num livrinho de 1848:  “Podem as classes dominantes tremer ante uma revolução comunista! Nela os proletários nada têm a perder a não ser as suas cadeias. Têm um mundo a ganhar.”.