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Perguntado por um repórter, recentemente, sobre a mediocridade dos índices que medem o desempenho da economia nacional, apurada em pesquisa da lavra do jornal Folha de S. Paulo, Bolsonaro respondeu: “Pergunte ao Paulo Guedes, pergunte ao Paulo Guedes, outra pergunta”, esquivando-se.

Bastante compreensível a postura.

Os indicadores econômicos confirmados esta semana pelo Banco Central apontam que o país entrou em recessão técnica (termo que acaba ocultando a situação factual), resultante de dois trimestres seguidos de estagnação.

A produção industrial física desabou – 5,9% em junho na comparação com junho de 2018. A queda de -0,6% na produção em junho em relação a maio (-0,1%) levou a indústria brasileira ao segundo mês negativo seguido. É o quarto resultado negativo no ano.

O número de famílias endividadas aumentou em julho, atingindo 64,1% dos lares brasileiros, segundo a Pesquisa de Endividamento e Inadimplência da Confederação Nacional do Comércio (CNC).

A taxa de desemprego (“taxa de desocupação”) chegou a 12% no trimestre encerrado em junho, atingindo 12,8 milhões de pessoas, segundo a Pnad Contínua divulgada pelo IBGE, representando uma queda de 0,7 ponto percentual em relação ao primeiro trimestre do ano (12,7%). Já a taxa composta de subutilização da força de trabalho foi estimada em 24,8% no trimestre móvel de abril a junho. O número de pessoas subutilizadas no Brasil chegou a 28,4 milhões no trimestre.

Vamos ficar por aqui para não cansar os leitores.

Os números frios são o reflexo de uma penosa realidade que atinge milhões de brasileiros todos os dias nas filas por emprego, no martírio nos hospitais, na via crucis nos pontos de ônibus, no desespero que faz explodir a informalidade nas ruas pela ausência de oportunidades de trabalho.

O caminho sôfrego determinado por Guedes e seus meninos de Chicago mantém uma coerência trágica.

Ao salário mínimo, Bolsonaro negou qualquer aumento real.

Ao BNDES, qualquer capacidade de investimento. Seus cofres são progressivamente desidratados. Nenhuma medida para salvar os pequenos e médios empreendedores à beira da ruína que mais empregam no país.

Às empresas, a dupla Bolsonaro/Guedes presenteia com a falácia da “liberdade econômica”. A liberdade das corporações monopolistas, na crônica voracidade de reduzir custos, explorar ainda mais os trabalhadores, subtraindo-lhes até mesmo os domingos e feriados, e quebrar concorrentes menores.

Aos trabalhadores, uma apunhalada no futuro com o desmonte dos benefícios previdenciários provenientes de uma vida inteira de luta, sacrifício e trabalho.

Com essas e outras barbaridades estrangulando o consumo, a roda da economia continuará girando para trás – o céu de brigadeiro dos bancos e rentistas que amealham lucros astronômicos com a debacle da economia real.

O fato mais grave, danoso e de difícil reversão é que o Brasil, há anos, é vítima de um processo acelerado e perverso que desindustrializa, desnacionaliza e financeiriza a economia nacional.

Quem está pagando essa conta são os milhões de brasileiros que vivem do trabalho, formal ou não, e da produção.

Qual o limite dessa onda? Onde vamos parar?

Os sinais são claros: para a dupla Bolsonaro/Guedes e seu entorno não há fronteira, não há divisa. Tudo é possível, desde que não contrarie a quem servilmente atende, Trump e seus lacaios internos – os poderosos monopólios do capital financeiro.

Já são oito meses de (des)governo e a narrativa da ofensa aos governos anteriores, alguns muito desastrosos, é verdade, está caducando.

O que fazer, Bolsonaro, diante da encruzilhada em que está se metendo? Apontar na direção do Guedes? Ora, não foi a sua caneta que o nomeou?, por entender da economia que você não entende…

Até onde continuará tentando ludibriar seus próprios eleitores com as declarações estapafúrdias e bizarras sobre temas de menor importância, numa clara aposta diversionista?

As falas e expressões crescentemente enraivecidas, adornadas pelo simulacro da falsa e hipócrita religiosidade e louvação à família, são sinais claros de que o fogo da economia real está ardendo em seu traseiro e chegará o momento em que será em vão tirar o corpo fora e botar a responsabilidade nos outros, seus ou não.

A Argentina acaba de dar uma lição histórica a quem, como Bolsonaro, preferiu o caminho da servidão aos poderosos e ao império, negligenciando com o país e seu povo.

Mas os bolsonaristas podem tirar o cavalinho da chuva… Lições muito mais simples não serviram ao capitão, não será essa!

(*) Jornalista, é membro do Comitê Central do PCdoB