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Longe de casa, ela se viu sozinha em um mundo desconhecido e estranho. Pessoas sem coração, sem cérebro e sem coragem povoavam este lugar. Para onde olhasse via gente desumana, ignorante e com medo seguindo por um caminho de tijolos amarelos. Diziam ser a trilha para a solução de seus problemas. Que ao final encontrariam um mágico que lhes entregaria o que lhes faltava.
Os sem cérebro já se imaginavam verdadeiras sumidades em temas variados e complexos. Aqueles sem coração planejavam seu futuro quando inundados de compaixão. Os que tudo temiam se viam livres de qualquer medo.
A estrada, no entanto, a princípio muito tranquila, rapidamente se transformou em tortuosa e repleta de armadilhas. Os medrosos começaram a espalhar que isso poderia ser obra do próprio mágico. Foram prontamente desmentidos pelos ignorantes com o apoio dos sem coração.
Mas, a medida que os obstáculos se tornavam mais e mais cruéis o boato pareceu fazer sentido até mesmo para os desprovidos de cérebro e uma parte deles abandonou o caminho. Recuperaram assim o que lhes faltava. Os que tinham medo até da própria sombra se sentiram corajosos o suficiente para combater as adversidades que apareciam à sua frente. Muitos deram meia volta e retornaram para suas casas cheios de coragem.
Assim, o grupo que era enorme se resumiu a alguns ignorantes e medrosos e a todos os sem coração. Ela também prosseguia na trilha, pois queria mais do que tudo voltar para o mundo que um dia conhecera. Era impensável permanecer para sempre neste lugar hostil e sem perspectivas de futuro. Tinha que haver uma solução.
O rumo estava traçado e o destino se aproximava. Os desumanos por vezes olhavam para trás e viam os que tinham perecido ao longo da jornada. Alguns se compadeciam e o calor da humanidade foi neles crescendo até que começaram a sentir o coração bater forte. Ao perceberem que não precisavam de mágica eles também voltaram para suas casas.
Poucas pessoas chegaram com ela até as portas do palácio do mágico. Portas enormes, quase intransponíveis. Mas, a caminhada tinha sido dura e não desistiriam justo quando tudo o que necessitavam estava a poucos passos de seu alcance.
Bateram forte. Uma, duas, três… cem vezes até. Nada. Um silêncio mortal imperava. Nenhuma resposta.
Mas, não tinham caminhado tanto, enfrentado todo tipo de adversidade para desistir. Forçaram sua entrada e se depararam com espaços vazios. Ninguém à vista. Muito menos o mágico. Nada ali lhes indicava que alguém seria capaz de suprir suas lacunas. O desespero tomou conta. Voltaram para suas casas da mesma forma que iniciaram a caminhada. Nada aprenderam, nada lhes foi acrescentado. Continuaram iguais.
Ela permaneceu sozinha no palácio sentindo o desânimo tomar conta de si. Começou a entoar uma canção que a fazia lembrar de sua casa. A melodia fez uma estranha energia fluir por seu corpo. Seus pés ganharam vida e foram para a rua. Ali dançou. Bradou e pôs para fora tudo que, por comodidade, estava entalado em sua garganta. Havia, enfim, encontrado seu lugar.