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Está escrito. Registrado em conversas no aplicativo Telegram. Restam comprovadas ações combinadas entre acusadores e julgadores, o que envergonha nosso sistema de justiça. Diante da avassaladora divulgação do esquema de que se valiam procuradores e o ex-juiz Sérgio Moro para uso da Justiça para fins político-partidários, as reações da sociedade se dividiram. Os que se dizem contra a corrupção agora se levantam contra os fatos que provam que, a título de combater o crime, foi montada uma operação ilegal e criminosa – com desvio de finalidade – pela própria Justiça.
É fácil entender a indignação e o receio daqueles atingidos pelas revelações, desmascarados em seus erros, pois se julgam acima da Lei. Mais difícil é explicar a onda de apoiadores que se mantém na defesa do indefensável. Por que se apegam à Lava Jato como reduto único de salvação e libertação do país? Onde encontram argumentos para defender ser normal um juiz comandar o trabalho dos procuradores da força tarefa da Lava Jato? Por que precisam inverter a acusação e insistir que a ilegalidade está no jornalismo investigativo?
As respostas não são simples, tão pouco únicas. Mas, parece que essas pessoas se afeiçoaram mais aos objetivos político-partidários da Lava Jato do que ao efetivo combate à corrupção.
Em um país onde a mentira foi ganhando espaço e transformada em verdade absoluta, ocas foram nossas vozes contra os efeitos danosos frente a tantas fakenews e ao lawfare que impera, condena e elege. A partir de 9 de junho tudo mudou. Às nossas vozes se somaram os fatos. O que vínhamos gritando tomou a forma de diálogos inconfessáveis e de inafugentável crédito.
Só posso imaginar que a Lava Jato se transformou no último reduto de uma falsa moralidade de pessoas intolerantes, machistas, homofóbicas e adeptas ao discurso do ódio. A Lava Jato as purificava. O discurso de combate à corrupção os tornava imunes às acusações de fascismo. Fazia com que se sentissem bem consigo mesmas. Ter um herói as transformava em pessoas “do bem”, do lado certo. Se o herói se mostra o vilão, como se manterão puros? Se tirarmos isso delas sobra o que? Resta o que são. E isso, não vão admitir.
Usarão das mesmas armas de seu herói para que não lhes seja negado mentir sobre si mesmas. Continuarão cegas aos fatos que lhes roubam o conforto de uma narrativa equivocada e imoral. A luta contra a corrupção é de todos nós. Mas deve se dar dentro da legalidade e do respeito ao Estado Democrático de Direito. Fora disso, é rasgar a Constituição e abandonar princípios democráticos.
Aos que estão neste caminho, a verdade ofende. Está sendo duramente combatida. Mas como disse o maior atingido pelo conluio a que se resumiram os trabalhos da força tarefa, “a verdade fica doente, mas não morre nunca”.