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Por Marco Campanella (*)

Assim como o desmonte da CLT, operado por Temer, o assalto às aposentadorias,
agora, com Bolsonaro, passou a ser a panaceia para todos os males e, como não poderia deixar
de ser, para o maior deles, a prostração econômica em que se encontra o país há pelo menos 5
anos.

Guedes, o garoto-propaganda da tragédia travestida de PEC que chamam de
“reforma”, atrelou, definitivamente, o futuro da economia nacional à aprovação da matéria,
secundado pelos interlocutores do bolsonarismo no Congresso Nacional que, em tom
monocórdico, repetem a máxima em tom ameaçador.

Argumentos, não há. Cálculos atuariais para demonstrar o badalado déficit, muito
menos. Cobraram do superministro quando de sua passagem turbulenta pela Câmara, mas,
até hoje, nenhum dado minimamente confiável, que não virá, por uma razão muito simples: a
narrativa governista carece de sustentação técnica e não resiste a alguns segundos de debate.
Entidades como a ANFIP, o DIEESE, entre outras, apresentaram farta argumentação a
outro bufão do mercado, o secretário Rogério Marinho – o mesmo que ceifou os direitos
trabalhistas e perdeu o mandato de deputado federal, em recente Seminário da Comissão de
Trabalho da Câmara Federal, e dele ouviu as mesmas frases prontas e falaciosas de sempre,
fabricadas pelos chicago-boys comandados por Guedes: combate aos privilégios das
corporações (não financeiras, é claro), defesa dos mais pobres e a ameaça terrorista de sempre.

O professor Eduardo Fagnani, da Unicamp, nesse mesmo evento, com sua costumeira
lucidez, desmascarou o secretário ao lembrar as sucessivas mudanças nas previsões de
crescimento da economia: se os economistas não conseguem prever sequer o que vai
acontecer com a economia no próximo trimestre, o que dirá nas próximas décadas, quando os
defensores da reforma afirmam que sem ela o déficit previdenciário explodirá e com ele a
economia brasileira. E foi didático: o destino da economia não pode ser atrelado ao destino da
previdência, porque nunca esteve.

Aliás, no mesmo diapasão, se manifestaram, muito recentemente, representantes do
mais poderoso sindicato da construção do país, o SINDUSCON-SP. Depois de concluírem que,
para eles, “o ano de 2019 acabou”, pela absoluta estagnação do setor, expressaram a
descrença de que a tal “reforma” será a “panaceia” da retomada do crescimento.
Mas, para desalento dos inimigos dos aposentados brasileiros, a simples discussão da
reforma da previdência já está interferindo nos rumos da economia, só que para baixo.
Os bancos, mais uma vez, reduziram a projeção de crescimento da economia este ano
e 2020. A estimativa para a expansão do Produto Interno Bruto (PIB) – a soma de todos os
bens e serviços produzidos no país – caiu de 1,97% para 1,95% este ano, na sétima redução
consecutiva. E o boletim Focus do Banco Central, na mesma esteira, apresentou, nesta
segunda (6) a décima queda consecutiva na expectativa para crescimento da economia este
ano – uma derrubada drástica de 1,70% para 1,49% de uma semana para a outra.
Pelo andar da carruagem, quando a autoproclamada “reforma” estiver prestes a ser
concluída nas duas casas legislativas, as estimativas sobre o desempenho econômico do
chamado “mercado” estarão no chão, ou no porão, desmistificando a pérola governista de que
a PEC salvará o Brasil, como aconteceu com as previsões alucinadas dos patrocinadores da
outra “reforma”, a trabalhista, quando prometeram restaurar em pouco tempo milhões de
empregos que os trabalhadores estão esperando até hoje.

Bastaria um pouquinho de bom senso (ou humildade) para aprender com as lições de
um passado muito recente para, no mínimo, adotar uma postura de cautela diante do clima de
terror que Guedes e o núcleo bolsonarista querem impingir a esse importante debate,
transformando-o em mais um embuste, agora em dose dupla.

(*) Jornalista, é membro do Comitê Central do PCdoB